quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

NORDESTE: CABRA DA PESTE

Há quem diga que o nordestino é meio islamizado e não é de se estranhar, até porque fomos colonizados pelos portugueses, que viveram por mais de seis séculos sob forte influência muçulmana, isto transparece no nosso modo vivendi, ou seja, nas características sócio-religiosas-culturais do nosso povo. O cabra da peste é um velho jargão do nordeste, que do ponto de vista lingüístico e sociológico é carregado de sentido. Segundo Euclides da Cunha em seu livro os "Sertões" enfatiza que o nordestino é antes de tudo um forte, porque viu nele o homem destemido, de têmpera forte, que "não leva desaforo pra casa", capaz de feitos heróicos, determinado e ao mesmo tempo de muita fé e temência a Deus. Aqui não tem lugar para quem é mole, pois, os fatores naturais e sociais nos desafiam constantemente, exigindo a sua superação. A peste negra, assim conhecida, na Idade Média, na Europa, dizimou populações inteiras de jovens, doença muito temida, originou-se nos bolsões de pobreza caracterizada pela falta de higiene, agravada pela falta de saneamento. A caprinocultura, ou seja, a criação de caprinos no sertão se constitui numa tradição, o pastoreio deste espécime de pequeno porte adaptado à seca, resistente, utiliza-se de pouca água, alimentando-se de pasto natural a exemplo do: alastrado, mandacarus, coroa de frade, facheiro, quixaba, ubaia, catingueira... Criado solto, sem fronteira e cativeiro se multiplicam, procria sem medidas. Roubar bode nos sertões é um dos maiores crime, passível de punição com a própria vida e para identificar o ladrão, amarra-lhes ao pescoço um chocalho. Dele tudo se aproveita o leite, o couro e a carne tão apreciada fazendo parte da culinária nordestina, tendo baixo teor de gordura, saborosa, digestiva podendo comê-la cozida, frita, assada, verde, seca, esta última salgada e levada ao sol.A seca, os longos períodos de estiagem unem o homem e o caprino nos sertões, dois elementos que enchem a paisagem nordestina ambos convivem dia a dia neste cenário, muitas vezes inóspito. Se por um lado o caprino compõe a base da economia de subsistência por outro lado o homem sertanejo tem e vê nele o símbolo da resistência, da superação, fertilidade, da garantia do rebanho e sua manutenção. Ser um cabra da peste é ter a natureza, a perseverança, a resistência a origem, atitude, a perspicácia, a força gregária de vida evidenciada no rebanho e no bando e vivê-los faz parte do caráter de fidelidade nestas terras onde o perdão é quase impossível. Alguém já dizia da sensibilidade nordestina como se fosse uma fragilidade do nosso EU, no entanto, é da sua índole a capacidade de acolhimento, hospitalidade, resignação, humildade e fé, não admitimos a traição. O nordeste traz consigo o que existe de mais brasileiro dentro de tantos brasis.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

PROBLEMA BRASILEIRO (2)

PROBLEMA BRASILEIRO (2)


Com a chegada dos portugueses em terras brasileiras,em 1500,irá marcar profundamente os destinos do nosso país.O sistema de governo em que estavam imersos impunha-nos um processo de colonização já conhecido e experimentado em outras plagas, em que a terra se constituía em propriedade, em um bem,em riqueza;esta atrelada ao modelo político-econômico e sócio-cultural lusitano.
Em um primeiro momento,fase pré-colonial,ficou restrita a exploração das riquezas naturais,prática extrativista, retirando da natureza tudo o que ela tinha a oferecer,a exemplo dos animais silvestres e a própria madeira,(pau brasil),até aí,a nossa natureza estava intacta,no entanto,as agressões ao meio ambiente serão progressivas,inicialmente levava-se os toros de madeira de lei,para a fabricação de móveis e extração de tinta vegetal, com largo emprego no mercado europeu, no início do Séc. XVI.
Em l530,a colonização propriamente dita se estabelece, pois, até o presente momento os portugueses viviam como “caranguejos” a arranharem o litoral.O envio da primeira expedição colonizadora trouxe consigo o sistema de capitanias hereditárias,já utilizado e comprovadamente de baixo custo para a metrópole portuguesa.Este modelo de ocupação territorial implantado, dividiu o nosso território em léguas e léguas de terras o que irá compor cada capitania concedida aos donatários que tinham plenos poderes, podendo ele praticar a justiça,fazer apresamento de índios,escravizá-los,explorar os minérios de aluvião,cobrar e pagar impostos ao reino e conceder sesmarias,ou seja,doar lotes de terras na capitania.
A colonização trará consigo a formação dos primeiros núcleos urbanos, surgirá os vilarejos,vilas,províncias,povoados e mais tarde as cidades e com eles os problemas de moradia de subsistência e suas conseqüências, o que antes era apenas a Mata Atlântica agora surgem as grandes fazendas,avança a urbanização e principalmente o cultivo da cana-de-açúcar,o dito “ouro branco” irá compor a maior parcela da paisagem da colônia, até porque alcançava alto valor no mercado consumidor ocidental,portanto,mais uma vez constatamos o quanto foi agravante o cultivo da cana para a produção do açúcar e mais tarde do café, em alterar substancialmente o meio ambiente, em especial o litoral brasileiro alterando o espaço físico-geográfico do nosso país.
Este modelo colonizador sedimentado em grandes glebas de terras,capitanias,sesmarias,latifúndios da monocultura,da agroexportação, satisfazia muito bem os anseios da monarquia mercantil o que possibilitou a acumulação de riquezas indo desaguar na revolução industrial do Séc.XVIII.
Assim, desenhou-se o nosso modelo de desenvolvimento, em que a propriedade da terra tem importância crucial, para a própria sobrevivência do modelo e do sistema de governo monárquico.
No final do Séc.XIX,as mudanças no cenário político era iminente a Proclamação da Republica e a própria Abolição da Escravatura mostraram-se inicialmente incapazes de extirpar os grandes males sociais que aviltavam as populações de então, mas com o passar dos anos nos impeliu a buscar novos caminhos para o desenvolvimento consolidando o quadro político com os ideais de liberdade,igualdade , fraternidade e economicamente as relações de trabalho progressivamente serão alteradas com a inclusão do trabalho assalariado,as cidades crescem e se modernizam apontam para o futuro.A república de fato durante muito tempo tem reproduzido o modelo político-econômico da monarquia trazendo até os dias de hoje a “questão da terra” do seu uso,da concentração nas mãos de uns poucos, dos grandes latifúndios improdutivos alargando ainda mais as injustiças sociais.Por um lado os governos têm se mostrado lentos nas decisões de regularização fundiária ,demarcação de terras e na própria Reforma Agrária, se arrastam empurrados pela burocracia e pela falta de decisão política em resolver tão grave problema.
Em atitude louvável o M.S.T (Movimento dos Sem Terra),busca a sua maneira precipitar as decisões a nível de governo,que possa lhes garantir um lugar ao sol,ou seja,a terra para quem nela vive e trabalha.O movimento tem dividido os que se dizem “esquerda” e por outro lado os ruralistas ao longo destes 25 anos de luta.Deixando de lado os erros cometidos pelo movimento dos sem terra ,vejo nele a atitude que se contrapõe a toda esta estrutura arcaica,oligárquica,concentradora,latifundiária obsoleta de um modelo político,econômico-social de injustiças que perpassou todas as épocas..