domingo, 22 de julho de 2012

RAÍZES DO CORONELISMO NOS SERTÕES
Não temos como nos pronunciar sobre esta temática, tão distante e ao mesmo tempo tão próxima de nossa realidade atual,sem antes buscar entender as razões históricas pelas quais o nosso país passou,levando à formação deste fenômeno que não é meramente político e econômico,mas também social tendo influenciado a cultura nordestina até os nossos dias.
A ocupação territorial brasileira foi decisiva em estabelecer uma visão medíocre,porque não dizer “ ranzinza “ de colonizar,em atender anseios e interesses de uma monarquia absolutista calcada num modelo agroexportador,fundamentado na posse da terra e de quem nela vivia.
A origem da relação do homem com a terra no Brasil é précabralina,ou seja, antes de Cabral,havendo fortes indicadores de que os ameríndios conviviam de maneira harmoniosa com a mesma.
.Com a vinda dos colonizadores esta relação passa a mudar substancialmente,tanto no modo,meios e força de produção utilizados ,trazendo consigo uma herança de 500 anos,alicerçada na grande propriedade;adotando o sistema de capitanias hereditárias,que consistia em divisão do território com dimensão desconhecida,que se iniciava no litoral e rumava para o interior,para os confins.Os donatários por sua vez concedia “sesmarias”,ou seja lotes de terras que chegavam a oitenta,cento e sessenta,duzentas léguas de terras.
Com o advento da república e a abolição da escravatura no final do século XIX , se constituíram em grandes esperanças de mudanças na qualidade de vida das pessoas ,no entanto,não ocorrera ,não conseguiram atender os anseios,as expectativas dos brasileiros.Frustrados continuaram a vivenciar os desmandos, dando lugar ao modelo arcaico de supervalorização da propriedade da terra .As fazendas se multiplicaram,agora não só no cultivo da cana de açúcar mas também do café e mais tarde do cacau.
Nas três primeiras décadas do século XX,o nosso sistema político-econômico esteve alicerçado essencialmente na atividade do campo,no cultivo agrícola e na criação de gado.Com ela toda herança histórica e de uma cultura social criada a partir da visão colonizadora e eurocêntrica.
A propriedade se constituiu não apenas num bem,em riqueza, mas em privilégio de alguns,de uns poucos,formando verdadeiras oligarquias fundiárias que perpassaram todas as épocas ,ainda presente em nossos dias .Que a terra é uma riqueza é inquestionável o que preocupa na verdade é o seu uso ,a que se destina?Se tem de fato proporcionado aos trabalhadores rurais a sua permanência no campo,se tem motivado os filhos dos filhos a continuarem como agricultores.


Os donatários em suas capitanias e cercanias eram imbuídos de plenos poderes,exerciam a justiça,julgando e condenando;exploravam os recursos naturais em toda a sua dimensão,faziam apresamento de índios e negros escravizando-os;cobravam e pagavam altos impostos a realeza;tinham a sua própria milícia para defender a propriedade,sua família e agregados,em síntese,estamos diante dos “donos da terra e do poder”.
A situação de injustiça social estabelecida nas raízes do Brasil-Colônia,passou pela monarquia chegando até a república .Situação esta agravada no percurso da história pelos desmandos exercidos por donatários,bandeirantes e fazendeiros.A pobreza,as péssimas condições de vida do homem do campo favoreceram o surgimento de movimentos rebeldes ,sejam dos negros que fugiam das senzalas a formarem os Quilombos,o Cangaço e a Guerra de Canudos.
É neste contexto que surge a figura dos coronéis nos sertões fazendo parte de toda esta historicidade ,encarnando toda esta visão de mundo ,em que possuir o latifúndio era fundamental para o exercício do poder e para tanto não mediam esforços para consolidar a sua posição nas localidades em que viviam,era essencial mandar,ser respeitado,gozar de prestígio,ser detentor da riqueza, era a garantia da sua família e agregados para tanto cometiam verdadeiras arbitrariedades arrodeado de jagunços,capangas e vaqueiros desenvolvia as suas atividades econômicas ;na falta de uma milícia oficial e ordenanças, era conferido a “patente de coronel” que lhes dava direito de praticar a justiça chegando a cometer abusos se utilizando dos serviços de jagunços e pistoleiros, a depender do caso.
Quase sempre as províncias,vilas,vilarejos e povoações surgiam nas mediações das grandes fazendas ,base de sustentação, em função das atividades econômicas desenvolvidas e do controle do uso da água escassa nos sertões, principalmente os chamados “Olhos D água”estabelecia-se assim uma relação de dependência de todos para com o coronel, ordenava a vida de todos e da própria vila influenciava fortemente a política local obrigando a todos votarem nos seus candidatos,ou seja, o voto era encabrestado.
Nos idos de l930,interessado em estabelecer sua hegemonia política no sertão nordestino o Governo Getúlio Vargas declarou guerra contra os movimentos de rebeldia e dos coronéis que tinham verdadeiro poder de mando,de forte influência no meio político,de inclusive de nomear e demitir funcionários na esfera dos governos.
Diante de toda a perseguição aos coronéis de patente,assim conhecidos,sobreviveu nos sertões famílias tradicionais, com elas suas histórias de poder ,opulência e influência nas localidades onde se encontram sediadas ,os seus sobrenomes destacam-se,são referências e delineadoras da política,da economia e da cultura de cada cidade e/ou micro região,valendo destacar no lado Pernambucano: Novais e Ferraz (Floresta),Pereira e Carvalho (Serra Talhada),Bemvindos e Gonçalves (Belém de São Francisco),No lado Alagoano: Torres (Água Branca),Malta e Brandão (Mata Grande),Medeiros (Poço das Trincheiras ),Rodrigues (Piranhas),Ribeiro(Palmeira dos Índios ),No lado Paraibano: Pereira (Princesa Isabel),No lado Bahiano: Horácio de Matos,Franklin Albuquerque,Militão,Marcionílio Donca Machado,Garcia D avila,Guedes de Brito (Recôncavo Bahiano),Brancos e Morenos na cidade de Chorrochó.