sexta-feira, 3 de setembro de 2010

GUERREIROS EM ARMADURAS DE COURO

O processo de colonização no Brasil só iniciou-se a partir de 1530 com a vinda dos fidalgos portugueses, agraciados com as capitanias em que os donatários detinham plenos poderes se constituindo na verdade em pessoas poderosas, em decidir os destinos das capitanias, exercendo a justiça, arrecadando impostos, concedendo sesmarias, explorando os minérios de aluvião e em praticar a preação de indios,ou seja, apresamento para satisfazer o modelo escravista em vigor,mais tarde consolidando-se com o tráfico negreiro,modelo desumano de utilização da mão de obra, em que o mesmo era visto como propriedade do seu senhor.
Inicialmente a colonização e consequente ocupação do território nordestino,em particular da Bahia, se deu pelo litoral, satisfazendo o ímpeto do modelo agro-exportador empreendido pela metrópole portuguesa, as capitanias passaram a cultivar a cana-de-açúcar, pois, tinha uma boa aceitação o açúcar dela derivado,ou seja, existia um mercado consumidor certo, alcançando excelente preço no comércio europeu tornamdo-se, assim , " o rico ouro branco " atendendo os interesses mercantilistas e de acumulação de riquezas, se constituiu no primeiro grande ciclo econômico do Brasil - Colonial submetido a corôa portuguesa logo sentiram outras necessidades à exemplo da criação do gado bovino, que lhes -iam dá suporte como uma atividade secundária , mas não menos importante, pois , oportunizará não só o desenvolvimento do cultivo da cana, utilizando-se do gado como meio de transporte, como tração animal, fornecimento de carnes para alimentação e o comércio de peles,ou seja, do couro.
As primeiras cabeças de gado que chegaram à colônia foram trazidas pelo então governador geral Tomé de Souza, em numero de doze reses, com a finalidade de apoiar o cultivo da cana-de-açúcar.
Com o passar dos anos o rebanho irá paulatinamente aumentando mostrando-se inviável a sua criação e manejo junto aos partidos de cana. Isto irá possibilitar o processo de interiorização da colônia, pois, além disto as pastagens naturais eram abundantes, não atrapalhando o cultivo da cana-de-açúcar em nenhum dos seus momentos em que era processada.
O conhecimento do interior será cada vez maior, alargando o território com a presença dos colonos e consequente ocupação, redesenhando o espaço físico-geográfico ,delimitando limites e fronteiras dos sertões possibilitando um comércio cada vez maior e próspero, os " velhos currais " irão cedendo lugar para o surgimento das primeiras povoações,vilas, vilarejos,províncias que mais tarde tornar-se-ão cidades.As feiras de gado eram de fato o elo de ligação entre os currais e as povoações que surgiam à exemplo de grandes polos comerciais e industriais do presente ,tais como: Feira de Santana (Bahia), Caruaru (Pernambuco) e Campina Grande na Paraiba.
O cenário dos sertões se modificará ao longo dos tempos, pois, a perseverante criação do gado dará oportunidades de enriquecimento e sobrevivência de muitos, fazendo surgir também e principalmente, uma " civilização corácea ", do comércio de peles que será fartamente utilizada na confecção de celas,arreios,viseiras,peitorais,calçados, perneiras blusas e chapéus de couro ,que irão compor a indumentária da figura humana do vaqueiro e do seu cavalo, ambos predispostos ao trabalho heróico de vaquejar o gado , juntos se responsabilizam pelo o zelo,os cuidados e o seu manejo ,tornar-se-ão verdadeiros guerreiros em suas armaduras de couro à correr pelas caatingas à enfrentar os cactus, os xique-xiques,mandacarus, coroas-de-frade o rasga gibão.
Eis,o grande responsável pelo crescimento do rebanho, prontos para pastorear o gado imprimindo de maneira destemida os cuidados necessários para sua integridade, o vaqueiro, nas trilhas de gado, faz ressoar no seu aboio uma quase oração, só entendida por ele e a própria rês,neste caminhar vale ressaltar que de sertão adentro o Rio São Francisco " o velho Chico " tão carinhosamente chamado e conhecido pelos ribeirinhos, deu lugar durante muito tempo às trilhas de gado e pouso de boiadas.
O vaqueiro, esta figura mítica e quase lendária que povoa os sertões,associado a utilização do couro o seu comércio e manejo do gado, fez surgir hábitos e costumes tornamdo-se, uma referência identitária para o nordeste.Nasceu como um segmento social livre de um povo mestiço,caboclo que se apaixona e se dá conta do seu existir.
Se não existe caatinga e nem gado, o vaqueiro também não , resta-nos as vaquejadas e as pegas de boi no mato para celebrar o que outrora era comum no sertão. Neguemos a extinção !!!
Por tudo que o vaqueiro representa é merecedor do reconhecimento popular, mas carece que as entidades culturais responsáveis pela memória histórica, se debrucem sobre esta questão no sentido de preservar e tomba-la como patrimônio imaterial da história nordestina e brasileira.