quinta-feira, 24 de setembro de 2009

OS FILHOS DA TERRA


O oeste da Europa, num recanto do continente, na Península Ibérica, lá estava Portugal, que reunia todas as condições para realizar um dos maiores empreendimentos da história, fazendo parte de uma intencionalidade, o império monárquico mercantilista, tinha um projeto colonial; nas suas diversas tentativas de chegar às Índias através de novos caminhos que estivessem longe do monopólio comercial, que acontecia através do mar mediterrâneo, antiga rota comercial entre o Ocidente e o Oriente, as viagens se sucederam cheias de aventuras e conquistas de novos territórios e tudo que nelas existiam, inclusive os seus povos e nações.

Em 1500, inicio do séc.XVI, em uma das investidas chega a solo brasileiro os portugueses, fincando a bandeira lusitana, marco inicial de posse do território ainda desconhecido e a ser desbravado e conquistado de fato.

Há registros de que os primeiros contatos entre brancos portugueses e os nativos, autóctones se deu de maneira amistosa, harmoniosa, recheada de curiosidades e com troca de presentes, era um processo de aproximação, em estabelecer uma relação de confiança, o que durou muito pouco, pois, logo se utilizaram da mão- de- obra indígena em troca de quinquilharias, para tanto passaram á derrubada da floresta nativa, exigiram-lhes o empilhamento de toros de madeira margeando a praia, o pau-brasil, madeira de lei, de excelente qualidade largamente utilizada na fabricação de móveis e confecção de instrumentos musicais, como também na tintura de tecidos a satisfazer a ambição mercantil, embelezando os salões da corte e a prestigiar a vaidade da nobreza, externada nas vestes e nos tecidos finos.

Em 1530, aproximadamente se deu o início da colonização propriamente dita o modelo empregado já era conhecido, experimentado em outras colônias, apresentando resultados satisfatórios e abaixo custo. O sistema de capitanias hereditárias foi responsável pelo início da ocupação territorial brasileira e conseqüente interiorização, expansão e demarcação do território, definindo mais tarde os nossos limites.

A tentativa de escravização dos nativos será cada vez maior a utilização da mão-de-obra dos indígenas será acompanhada cada vez mais da exploração da sua força de trabalho, mas também cedo descobriram a inviabilidade da sua utilização, pois, os indígenas eram muitos, conheciam o terreno, não se submetendo a escravidão, resistiram, não se adaptaram ao trabalho coercitivo, contrário aos seus costumes, que não ambicionavam a acumulação de riquezas, não estando dispostos a quebrar a harmonia reinante entre o seu povo e a natureza. A mãe terra que tantos frutos lhes deram se via agora ameaçada e aviltada pela ação colonizadora.

A ação dos bandeirantes no processo de interiorização da colônia era crescente, a ação intinerante objetivava conhecer o território, ocupa-lo, buscar ouro e pedras preciosas, mais principalmente realizar o apresamento e/ ou preação dos índios, o que se constituía numa verdadeira caçada humana dentro das matas, como se fossem animais selvagens pegos a “dente de cachorro”Estas investidas conflituosas provocou ao longo da história um verdadeiro “genocídio “,apesar de serem numerosos e acostumados ao combate nas matas, tornava-se desigual,pois ,combater com arcos,flechas,tacapes e zarabatanas contra armas de fogo, os arcabuzes, era simplesmente impossível.

Diante dos acontecimentos os índios que sobreviviam, ficando submetidos aos brancos colonizadores, sujeitos a ação, a imposição dos costumes gerou um processo gradativo de branqaueamento, as misturas raciais se deram na maioria das vezes as índias eram serviciadas pelos seus senhores, a mestiçagem vai aos poucos descaracterizando a etnia índia, os mestiços mamelucos vai aos poucos perdendo a identidade cultural à medida que a urbanização avançava, o processo de aculturação, de negação da sua cultura será cada vez mais violento e arrebatador.

Por outro lado as missões jesuíticas referendadas pela hierarquia da Igreja, no afã de cumprir com a missão de cristianizar e evangelizar lançou mão da catequese, levando os evangelhos aos mais recônditos lugares, empreendendo uma educação calcada na visão branca européia, que tinha os índios como pagãos; acreditava-se que o conhecimento da palavra e o batismo, seriam necessários para o apaziguamento dos conflitos entre brancos e índios, para tanto, chegaram a traduzir textos para a língua tupi-guarani, facilitando a compreensão, o entendimento, o discernimento da mensagem cristã. Ora, a missão jesuítica ao ser construída delimitava a sua área de ação, ganhando em autonomia e facilitando o ensinar e o aprender, nesta troca os costumes do branco fora imposto aos nativos, contribuindo para a perda de sua identidade cultural.

Em l889, Séc. XIX, chegamos à república, novo sistema político que apontava para o futuro, alimentado pelos ideais do positivismo francês e da própria revolução francesa que juntos defendiam um humanismo, a valorização do homem alicerçada na igualdade, liberdade e fraternidade; residindo aí, as grandes esperanças de mudanças que viessem sanar os grandes problemas sociais do Brasil de então.

A herança, o ranço da monarquia, perdurará por muito tempo entre nós, sendo a principal questão a ser resolvida o da propriedade da terra, pois, ao longo de toda a nossa história tornou-se o nó-górdio dos problemas sociais do nosso país, perpassando todas as épocas. Vivemos 400 anos aproximadamente, sujeitos e sob forte influência da monarquia que tinha a terra como o seu maior bem, delineando o desenvolvimento nacional, com uma economia monocultora e agro-exportadora e ao mesmo tempo fragilizada pelas intempéries do tempo, pragas e os baixos preços alcançados no mercado internacional.

Os grandes fazendeiros, senhores de engenho, dos cafezais e a ação do coronelismo nos sertões, ainda será uma constante, mantendo as sua hegemonias político-econômica alicerçadas no grande latifúndio. As oligarquias fundiárias cada vez mais ricas, castrando a maior capacidade produtora deste país, que são os pequenos agricultores.

Em síntese, acreditava-se que a república seria a redentora do nosso Brasil, que iria curar a ferida histórica da relação do homem com a terra, no entanto, constatamos no presente momento que os problemas sociais se agravam mais a mais.

A partir desta análise e contextualizando a situação do índio brasileiro é que percebemos o quanto esta etnia foi historicamente sacrificada, prejudicada no seu modo de vida, na sua cultura, costumes e valores. Trazemos conosco um grande legado de atraso no que diz respeito à forma como tratamos o nosso patrimônio humano-histórico natural.

No início do Séc. XX, surge a figura do Marechal Cândido Mariano Rondon, que ao servir ao Exército Brasileiro, descobre-se no Pensamento Positivista defendido por Benjamim Constant, impregnado de humanidade, ajudando-o a assumir a sua identidade Bororo. Neste Brasil das primeiras décadas do Séc. XX, na sua dimensão continental necessitando de uma maior integração nacional através da comunicação, lhes deram a incumbência de desbravar os Sertões, construindo a rede telegráfica, pessoa abnegada, determinada, disciplinada assumindo esta missão.

Logo descobriu que não bastava construir a rede telegráfica, pois, junto dela havia os povos, as etnias índias que deveriam sobreviver, serem preservadas, para tanto, pregou um pacifismo, aconselhando-os a não resistirem ao avanço da urbanização, da tecnologia e do desenvolvimento, ou seja, o que importava naquele momento era sobreviver, pela sua importância enquanto povos e nações que tanto contribuem para uma identidade nacional.

Diante destes fatos e da própria maturidade das iniciativas empreendidas por Rondon, nasce à necessidade de criar institucionalmente as primeiras leis que tutelem os índios brasileiros como patrimônio humano, histórico-natural, fora criado neste momento o SPI – Serviço de Proteção ao Índio, que mais tarde, em 1967,tornou-se a FUNAI – Fundação Nacional do Índio, o Estado brasileiro chama para si a responsabilidade de proteger estas etnias e com elas a preservação da memória viva do nosso povo.

Por sua vez a Igreja Católica, através da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, criou o CIMI – Conselho Indigenista Missionário tendo por missão ajudar as comunidades indígenas na sua organização, reaglutinação,preservação dos seus costumes e valores culturais, para tanto os missionários religiosos e leigos elaboram projetos que contemplam a realidade de cada grupo,sendo este trabalho conseqüência da visão social cristã. Sem sombras de dúvidas estas ações significaram e significam muito, no que diz respeito a uma tomada de consciência da nossa realidade enquanto nação e nos anima mais ainda a perseverar no caminho de uma identidade nacional e na conquista da autonomia índia.

A partir dos elementos e vestígios culturais existentes conseguimos reconstruir a história de muitas comunidades indígenas neste país, ajudando-os a se identificarem como tal, reorganizar-se, defendendo os seus costumes e valores culturais, buscando o reconhecimento oficial e a demarcação de suas terras, vale destacar os índios do nordeste, até porque foi por aqui que se iniciou o processo de colonização, os primeiros contatos, os primeiros conflitos e com eles toda a violência que desceram sobre eles de maneira avassaladora.

Vale destacar no nordeste brasileiro, que no início da colonização existiam muitas nações indígenas que povoavam toda a região, desde o litoral até o interior do sertão, sendo eles os primeiros a sofrerem todo o processo violento de aculturação, segregação racial, desagregação social e miscigenação, este último, gerando os mamelucos conhecidos no nosso meio como “caboclos”. Na porção litorânea evidenciamos a existência da nação dos Aimorés, conhecidos como Botocudos, por utilizar-se de roldana de madeira no lábio inferior e do hábito de furar as orelhas, sendo também destemidos guerreiros.

Já no interior, mais precisamente na região ribeirinha do Rio São Francisco na sua porção navegável, nas suas corredeiras, cascatas, floresta de cana-fístulas cheia de garças brancas e outros espécimes da fauna local que sobrevivia na maioria das vezes dos charcos deixados pelas enchentes e vazantes do rio, guardavam também a nação Cariri, que falavam língua do tronco macro-jê que os integravam harmoniosamente neste universo natural.

Salientar estas nações tão importantes no contexto histórico nordestino é falar da nossa memória revivida no presente, através dos povos desta região, tais como:Truká / Paulo Afonso, Pankararé / Brejo do Burgo, Kantaruré / Glória , Xucuru-Kariri / Glória, Tuxá / Rodelas , Atikum / Rodelas, Truká / Sobradinho, Kiriri / Banzaê, Atikum / Curaçá, Pankarú / Serra do Ramalho, Tumbalalá /

Abaré e Curaçá, Kaimbé / Euclides da Cunha. .

quinta-feira, 9 de abril de 2009

RAÍZES DO CORONELISMO NOS SERTOES

RAÍZES DO CORONELISMO NOS SERTÕES

Não temos como nos pronunciar sobre esta temática, tão distante e ao mesmo tempo tão próxima de nossa realidade atual,sem antes buscar entender as razões históricas pelas quais o nosso país passou,levando à formação deste fenômeno que não é meramente político e econômico,mas também social tendo influenciado a cultura nordestina até os nossos dias.

A ocupação territorial brasileira foi decisiva em estabelecer uma visão medíocre,porque não dizer “ ranzinza “ de colonizar,em atender anseios e interesses de uma monarquia absolutista calcada num modelo agroexportador,fundamentado na posse da terra e de quem nela vivia.

A origem da relação do homem com a terra no Brasil é précabralina,ou seja, antes de Cabral,havendo fortes indicadores de que os ameríndios conviviam de maneira harmoniosa com a mesma.

.Com a vinda dos colonizadores esta relação passa a mudar substancialmente,tanto no modo,meios e força de produção utilizados ,trazendo consigo uma herança de 500 anos,alicerçada na grande propriedade;adotando o sistema de capitanias hereditárias,que consistia em divisão do território com dimensão desconhecida,que se iniciava no litoral e rumava para o interior,para os confins.Os donatários por sua vez concedia “sesmarias”,ou seja lotes de terras que chegavam a oitenta,cento e sessenta,duzentas léguas de terras.

Com o advento da república e a abolição da escravatura no final do século XIX , se constituíram em grandes esperanças de mudanças na qualidade de vida das pessoas ,no entanto,não ocorrera ,não conseguiram atender os anseios,as expectativas dos brasileiros.Frustrados continuaram a vivenciar os desmandos, dando lugar ao modelo arcaico de supervalorização da propriedade da terra .As fazendas se multiplicaram,agora não só no cultivo da cana de açúcar mas também do café e mais tarde do cacau.

Nas três primeiras décadas do século XX,o nosso sistema político-econômico esteve alicerçado essencialmente na atividade do campo,no cultivo agrícola e na criação de gado.Com ela toda herança histórica e de uma cultura social criada a partir da visão colonizadora e eurocêntrica.

A propriedade se constituiu não apenas num bem,em riqueza, mas em privilégio de alguns,de uns poucos,formando verdadeiras oligarquias fundiárias que perpassaram todas as épocas ,ainda presente em nossos dias .Que a terra é uma riqueza é inquestionável o que preocupa na verdade é o seu uso ,a que se destina?Se tem de fato proporcionado aos trabalhadores rurais a sua permanência no campo,se tem motivado os filhos dos filhos a continuarem como agricultores.

Os donatários em suas capitanias e cercanias eram imbuídos de plenos poderes,exerciam a justiça,julgando e condenando;exploravam os recursos naturais em toda a sua dimensão,faziam apresamento de índios e negros escravizando-os;cobravam e pagavam altos impostos a realeza;tinham a sua própria milícia para defender a propriedade,sua família e agregados,em síntese,estamos diante dos “donos da terra e do poder”.

A situação de injustiça social estabelecida nas raízes do Brasil-Colônia,passou pela monarquia chegando até a república .Situação esta agravada no percurso da história pelos desmandos exercidos por donatários,bandeirantes e fazendeiros.A pobreza,as péssimas condições de vida do homem do campo favoreceram o surgimento de movimentos rebeldes ,sejam dos negros que fugiam das senzalas a formarem os Quilombos,o Cangaço e a Guerra de Canudos.

É neste contexto que surge a figura dos coronéis nos sertões fazendo parte de toda esta historicidade ,encarnando toda esta visão de mundo ,em que possuir o latifúndio era fundamental para o exercício do poder e para tanto não mediam esforços para consolidar a sua posição nas localidades em que viviam,era essencial mandar,ser respeitado,gozar de prestígio,ser detentor da riqueza, era a garantia da sua família e agregados para tanto cometiam verdadeiras arbitrariedades arrodeado de jagunços,capangas e vaqueiros desenvolvia as suas atividades econômicas ;na falta de uma milícia oficial e ordenanças, era conferido a “patente de coronel” que lhes dava direito de praticar a justiça chegando a cometer abusos se utilizando dos serviços de jagunços e pistoleiros, a depender do caso.

Quase sempre as províncias,vilas,vilarejos e povoações surgiam nas mediações das grandes fazendas ,base de sustentação, em função das atividades econômicas desenvolvidas e do controle do uso da água escassa nos sertões, principalmente os chamados “Olhos D água”estabelecia-se assim uma relação de dependência de todos para com o coronel, ordenava a vida de todos e da própria vila influenciava fortemente a política local obrigando a todos votarem nos seus candidatos,ou seja, o voto era encabrestado.

Nos idos de l930,interessado em estabelecer sua hegemonia política no sertão nordestino o Governo Getúlio Vargas declarou guerra contra os movimentos de rebeldia e dos coronéis que tinham verdadeiro poder de mando,de forte influência no meio político,de inclusive de nomear e demitir funcionários na esfera dos governos.

Diante de toda a perseguição aos coronéis de patente,assim conhecidos,sobreviveu nos sertões famílias tradicionais, com elas suas histórias de poder ,opulência e influência nas localidades onde se encontram sediadas ,os seus sobrenomes destacam-se,são referências e delineadoras da política,da economia e da cultura de cada cidade e/ou micro região,valendo destacar no lado Pernambucano: Novais e Ferraz (Floresta),Pereira e Carvalho (Serra Talhada),Bemvindos e Gonçalves (Belém de São Francisco),No lado Alagoano: Torres (Água Branca),Malta e Brandão (Mata Grande),Medeiros (Poço das Trincheiras ),Rodrigues (Piranhas),Ribeiro(Palmeira dos Índios ),No lado Paraibano: Pereira (Princesa Isabel),No lado Bahiano: Horácio de Matos,Franklin Albuquerque,Militão,Marcionílio Donca Machado,Garcia D avila,Guedes de Brito (Recôncavo Bahiano),Brancos e Morenos na cidade de Chorrochó.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

NORDESTE: CABRA DA PESTE

Há quem diga que o nordestino é meio islamizado e não é de se estranhar, até porque fomos colonizados pelos portugueses, que viveram por mais de seis séculos sob forte influência muçulmana, isto transparece no nosso modo vivendi, ou seja, nas características sócio-religiosas-culturais do nosso povo. O cabra da peste é um velho jargão do nordeste, que do ponto de vista lingüístico e sociológico é carregado de sentido. Segundo Euclides da Cunha em seu livro os "Sertões" enfatiza que o nordestino é antes de tudo um forte, porque viu nele o homem destemido, de têmpera forte, que "não leva desaforo pra casa", capaz de feitos heróicos, determinado e ao mesmo tempo de muita fé e temência a Deus. Aqui não tem lugar para quem é mole, pois, os fatores naturais e sociais nos desafiam constantemente, exigindo a sua superação. A peste negra, assim conhecida, na Idade Média, na Europa, dizimou populações inteiras de jovens, doença muito temida, originou-se nos bolsões de pobreza caracterizada pela falta de higiene, agravada pela falta de saneamento. A caprinocultura, ou seja, a criação de caprinos no sertão se constitui numa tradição, o pastoreio deste espécime de pequeno porte adaptado à seca, resistente, utiliza-se de pouca água, alimentando-se de pasto natural a exemplo do: alastrado, mandacarus, coroa de frade, facheiro, quixaba, ubaia, catingueira... Criado solto, sem fronteira e cativeiro se multiplicam, procria sem medidas. Roubar bode nos sertões é um dos maiores crime, passível de punição com a própria vida e para identificar o ladrão, amarra-lhes ao pescoço um chocalho. Dele tudo se aproveita o leite, o couro e a carne tão apreciada fazendo parte da culinária nordestina, tendo baixo teor de gordura, saborosa, digestiva podendo comê-la cozida, frita, assada, verde, seca, esta última salgada e levada ao sol.A seca, os longos períodos de estiagem unem o homem e o caprino nos sertões, dois elementos que enchem a paisagem nordestina ambos convivem dia a dia neste cenário, muitas vezes inóspito. Se por um lado o caprino compõe a base da economia de subsistência por outro lado o homem sertanejo tem e vê nele o símbolo da resistência, da superação, fertilidade, da garantia do rebanho e sua manutenção. Ser um cabra da peste é ter a natureza, a perseverança, a resistência a origem, atitude, a perspicácia, a força gregária de vida evidenciada no rebanho e no bando e vivê-los faz parte do caráter de fidelidade nestas terras onde o perdão é quase impossível. Alguém já dizia da sensibilidade nordestina como se fosse uma fragilidade do nosso EU, no entanto, é da sua índole a capacidade de acolhimento, hospitalidade, resignação, humildade e fé, não admitimos a traição. O nordeste traz consigo o que existe de mais brasileiro dentro de tantos brasis.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

PROBLEMA BRASILEIRO (2)

PROBLEMA BRASILEIRO (2)


Com a chegada dos portugueses em terras brasileiras,em 1500,irá marcar profundamente os destinos do nosso país.O sistema de governo em que estavam imersos impunha-nos um processo de colonização já conhecido e experimentado em outras plagas, em que a terra se constituía em propriedade, em um bem,em riqueza;esta atrelada ao modelo político-econômico e sócio-cultural lusitano.
Em um primeiro momento,fase pré-colonial,ficou restrita a exploração das riquezas naturais,prática extrativista, retirando da natureza tudo o que ela tinha a oferecer,a exemplo dos animais silvestres e a própria madeira,(pau brasil),até aí,a nossa natureza estava intacta,no entanto,as agressões ao meio ambiente serão progressivas,inicialmente levava-se os toros de madeira de lei,para a fabricação de móveis e extração de tinta vegetal, com largo emprego no mercado europeu, no início do Séc. XVI.
Em l530,a colonização propriamente dita se estabelece, pois, até o presente momento os portugueses viviam como “caranguejos” a arranharem o litoral.O envio da primeira expedição colonizadora trouxe consigo o sistema de capitanias hereditárias,já utilizado e comprovadamente de baixo custo para a metrópole portuguesa.Este modelo de ocupação territorial implantado, dividiu o nosso território em léguas e léguas de terras o que irá compor cada capitania concedida aos donatários que tinham plenos poderes, podendo ele praticar a justiça,fazer apresamento de índios,escravizá-los,explorar os minérios de aluvião,cobrar e pagar impostos ao reino e conceder sesmarias,ou seja,doar lotes de terras na capitania.
A colonização trará consigo a formação dos primeiros núcleos urbanos, surgirá os vilarejos,vilas,províncias,povoados e mais tarde as cidades e com eles os problemas de moradia de subsistência e suas conseqüências, o que antes era apenas a Mata Atlântica agora surgem as grandes fazendas,avança a urbanização e principalmente o cultivo da cana-de-açúcar,o dito “ouro branco” irá compor a maior parcela da paisagem da colônia, até porque alcançava alto valor no mercado consumidor ocidental,portanto,mais uma vez constatamos o quanto foi agravante o cultivo da cana para a produção do açúcar e mais tarde do café, em alterar substancialmente o meio ambiente, em especial o litoral brasileiro alterando o espaço físico-geográfico do nosso país.
Este modelo colonizador sedimentado em grandes glebas de terras,capitanias,sesmarias,latifúndios da monocultura,da agroexportação, satisfazia muito bem os anseios da monarquia mercantil o que possibilitou a acumulação de riquezas indo desaguar na revolução industrial do Séc.XVIII.
Assim, desenhou-se o nosso modelo de desenvolvimento, em que a propriedade da terra tem importância crucial, para a própria sobrevivência do modelo e do sistema de governo monárquico.
No final do Séc.XIX,as mudanças no cenário político era iminente a Proclamação da Republica e a própria Abolição da Escravatura mostraram-se inicialmente incapazes de extirpar os grandes males sociais que aviltavam as populações de então, mas com o passar dos anos nos impeliu a buscar novos caminhos para o desenvolvimento consolidando o quadro político com os ideais de liberdade,igualdade , fraternidade e economicamente as relações de trabalho progressivamente serão alteradas com a inclusão do trabalho assalariado,as cidades crescem e se modernizam apontam para o futuro.A república de fato durante muito tempo tem reproduzido o modelo político-econômico da monarquia trazendo até os dias de hoje a “questão da terra” do seu uso,da concentração nas mãos de uns poucos, dos grandes latifúndios improdutivos alargando ainda mais as injustiças sociais.Por um lado os governos têm se mostrado lentos nas decisões de regularização fundiária ,demarcação de terras e na própria Reforma Agrária, se arrastam empurrados pela burocracia e pela falta de decisão política em resolver tão grave problema.
Em atitude louvável o M.S.T (Movimento dos Sem Terra),busca a sua maneira precipitar as decisões a nível de governo,que possa lhes garantir um lugar ao sol,ou seja,a terra para quem nela vive e trabalha.O movimento tem dividido os que se dizem “esquerda” e por outro lado os ruralistas ao longo destes 25 anos de luta.Deixando de lado os erros cometidos pelo movimento dos sem terra ,vejo nele a atitude que se contrapõe a toda esta estrutura arcaica,oligárquica,concentradora,latifundiária obsoleta de um modelo político,econômico-social de injustiças que perpassou todas as épocas..

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

PROBLEMA BRASILEIRO (1)

O Brasil como um país emergente ,que se propõe a consolidar sua posição no contexto latino-americano, tem que enfrentar os seus problemas, a exemplo da questão ambiental,encará-la de frente ,de forma realista e em se falando do verde, nos reporta à questão da Amazônia, que é o que existe de maior e de mais expressivo, ganhando a dimensão internacional.
As nações desenvolvidas, hoje se dão ao luxo,o privilégio de opinarem sobre o que devemos fazer em território brasileiro ,pois, a Amazônia virou na opinião de muitos “ o pulmão do mundo”, no entanto, eles acabaram com as suas matas, florestas, poluíram os rios e mares, acabaram com a fauna e as etnias, se desenvolveram, e nós continuamos como um país subdesenvolvido,emergente,periférico,perdedor e dependente de uma economia cada vez mais globalizada, sujeitos a esta nova ordem econômica internacional.
Pensar a Amazônia é compreender-se em toda sua extensão, como região além fronteiras, que abrange outros países que apresentam características sócio-econômicas e político-culturais comuns.
O nosso país tem tido atitudes louváveis quando propõe acordos bilaterais,de ajuda mútua, de consolidação do MERCOSUL ,em se tratando deste último, se constitui em grande passo na definição de uma geopolítica para a região Amazônica .
O Brasil tem uma importância crucial, pois, deste território, 60 % nos pertence, cabendo-nos também as maiores dificuldades de racionalizá-lo. Questões como: desmatamento, presença de madeireiras não autorizadas, demarcação de terras indígenas, mineradoras, reservas ecológicas, a falta de uma definição de quais terras poderão serem utilizadas para a atividade agropecuária tem ocasionado hostilidades entre donos de madeireiras, mineradores, índios, governo, grileiros, posseiros, ecologistas e empreendedores, trazendo como conseqüência o atraso, a degradação e o genocídio.
A presença estrangeira tem aumentado cada vez mais,na aquisição de terras brasileiras mediadas por imobiliárias e até por ONGs internacionais que se dizem “ defenderem o meio ambiente”,no entanto, estão a lotear o que é nosso.
A questão amazônica é sem dúvida alguma uma bandeira a ser levantada pelos brasileiros,de segurança e soberania nacional, de países irmãos que se assemelham enquanto povos de uma mesma identidade étnico-cultural. O Brasil tem de certa maneira acordado para estes problemas, reforçando a vigilância nesta área, através do SIVAM- Serviço de Vigilância do Amazonas, sistema operacional de monitoramento através de satélite e do envio de força nacional para o patrulhamento de fronteira e combate ao narcotráfico.
Afirmo que tudo isto é ainda muito pouco para se dar uma solução definitiva para os problemas que assolam esta região. Os teóricos defendem a sustentabilidade como forma de enfrentamento da situação, um desenvolvimento econômico que contemple a dimensão ambiental e das tradições culturais.
É chegada a hora de consolidar um “ pacto amazônico” ou então estaremos fadados ao fracasso, deixando para o futuro um legado de inoperância ,de antipatriotismo de falência institucional e do Estado.